Mesa de Debates discute quebra de paradigmas e perspectivas na Educação Integral

Postado por

O Coordenador da área de Missão da UMBRASIL, Ir. Lúcio dantas, dá as boas-vindas aos presentes

A União Marista do Brasil (UMBRASIL) reuniu, no dia 17 de outubro, em Curitiba, gestores e educadores maristas, representantes da Comissão de Solidariedade e da Comissão de Educação Básica, integrantes do Grupo de trabalho Educação Integral, convidados de instituições educacionais, entre outros participantes, na Mesa de Debates “Educação integral em tempo Integral e indicadores de qualidade”.  Em virtude do cenário educacional (PNE) e das diretrizes lançadas pelo Ministério da Educação (MEC) para a Educação Integral, a UMBRASIL identificou a necessidade de discutir os cenários e as perspectivas da Educação Integral em tempo integral e criou um Grupo De Trabalho (GT) com a nobre missão de subsidiar a atuação marista na educação integral em tempo integral. Durante todo o dia, cinco palestrantes proporcionaram momentos de reflexão ao falar sobre desafios para a educação integral, aspectos da construção curricular na visão sistêmica do espaço-escola e sobre metodologia e indicadores de qualidade na área educacional.

A coordenadora da área de representação Institucional da UMBRASIL, Leila Paiva, iniciou os trabalhos da mesa fazendo referência à trajetória do Grupo de Trabalho “Educação Integral, em tempo Integral” criado na UMBRASIL este ano. O grupo tem realizado um processo de imersão em conteúdos e práticas que possam aportar insumos que garantam uma prática qualificada do Brasil Marista nessa área. A Mesa de Debates foi mais uma destas iniciativas. Logo depois, o diretor da Rede de Colégios da Província Marista Brasil Centro-Sul, Prof. Flavio Sandi, conduziu o momento de espiritualidade e acolhida. Em seguida, o coordenador da Área de Missão da UMBRASIL e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB), Ir. Lúcio Gomes Dantas, convidou os presentes a usufruir daquele momento como possibilidade de sonhar e criar novas oportunidades educacionais, sobretudo em relação à Educação integral: “Esse é um momento de estarmos em ‘torno da mesma mesa’ e refletirmos sobre novos olhares para a educação integral”, considerou o coordenador.

A primeira apresentação, preparada pela Superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC)- Instituição que é referência na qualidade da educação pública -, Anna Helena Altenfelder,  trouxe a questão do desafio que a Educação Integral ainda representa para todos nós. “Pensar em educação integral significa quebrar paradigmas e mudar posturas, por isso o debate é sempre muito bom”, opinou a doutora. Para ela, a garantia de direito à aprendizagem deve ser o pilar ao se pensar em educação integral, principalmente para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. Atualmente, 966 mil meninos e meninas estão fora da escola e isso se deve a desigualdades territoriais e problemas de acesso à escola: “Isso em nível do Brasil é um problema muito grande, pois são quase 3% de jovens fora das salas de aula, por isso devemos pensar numa educação integral que faça a criança permanecer na escola e não apenas matricular-se nela”, opinou.  Ao falar sobre a da grade curricular, Anna Helena disse que essa deve ser planejada e o primeiro passo para sua construção é olhar para o global, saber onde a comunidade escolar se situa dentro do universo cultural. “É preciso envolver pais, sociedade, professores para trabalharem juntos e também utilizar ferramentas tecnológicas como maneira de inovar os métodos de aprendizagem, ou seja, pensar no mundo como uma parceria participativa e democrática”, concluiu a doutora.

O Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Dr. Paulo Bareicha ressaltou a importância da comunicação num sistema complexo de elementos em interação. “Um projeto pedagógico deve estar em sintonia e articulado a um projeto de educação do país e com suas Políticas Públicas”, lembrou Bareicha. Para ele, a sociedade deve repensar uma política educacional que integre os saberes populares e a escola. “Se queremos a construção de uma escola republicana e democrática, temos de reinventar o tempo escolar compreendendo o processo de mudança paradigmática na educação-escola”, ponderou. O professor ainda levantou a problemática de como evitar a exclusão educacional que a falta das políticas públicas ocasiona: “Nossas decisões devem respeitar não somente a legislação, mas outras limitações, tais como problemas de transporte, trânsito, carga horária de alunos e pais, e outros impactos que, se não houver interação conjunta e uma ação coordenada entre os diversos setores públicos e privados, nós iremos travar o processo, não haverá gente e nem infraestrutura suficiente pra essa mudança”, concluiu o professor.

Anna Beatriz Goulart, consultora do Programa Mais Educação e do Programa Escolas Sustentáveis da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério de Educação, proferiu a terceira apresentação falando sobre a necessidade de quebras de paradigmas, um deles seria o de reformular lugares para a educação integral do espaço escolar ao território educativo. Para ela, o espaço escolar impede a educação, principalmente a Integral, e o espaço físico existente para cumprir o turno prolongado e outras atividades é limitado. “Não tem lugar para fazer as atividades extras, não tem lugar onde brincar, infelizmente o espaço escolar foi todo montado para o aluno não se mexer”, observou a professora.  “A gente sabe que aprendemos quando nos mexemos, portanto o aluno já se sente meio estranho e limitado dentro desses espaços, a escola hoje é como um armário que você entra e fica lá quieto, por isso, devemos quebrar esse paradigma”, provocou a consultora. Para Anna Beatriz, a pedagogia precisa se expandir e refletir como construir o currículo para a educação integral em tempo integral: “devemos fazer isso juntos, discutindo o conhecimento, ouvindo apaís e alunos, buscando professores especialistas e questionando onde estão as incertezas deles. Dessa forma podemos resolver onde devemos atuar”, opinou a consultora que encerrou sua palestra com uma questão crucial para reflexão dos participantes: “Quais seriam os lugares ideias para a educação integral?”.

À tarde, os participantes debateram sobre aspectos metodológicos e indicadores de qualidade nos moldes da educação integral em tempo integral. Inicialmente, a coordenadora pedagógica do Instituto Paulo Freire, professora Alessandra Santos trouxe a perspectiva freiriana ao falar de uma escola cidadã que resgata a escola onde os alunos de fato exerçam sua cidadania. A docente falou também sobre os eixos para repensar a educação, e provocar a verdadeira educação cidadã, tais como: gestão democrática, gestão sociocultural das aprendizagens, avaliação dialógica continuada e formação humana. “A educação não pode ser sozinha. A verdadeira escola-cidadã é caracterizada pela participação dos educandos e pelo planejamento participativo dentro de uma gestão democrática”, enfatizou a coordenadora. A questão do tempo ampliado na educação integral exige novas concepções de educação. “Para ampliar o tempo é preciso considerar questões, tais como: adaptação do espaço físico, da grade curricular, conteúdos, construção do conhecimento, entre outras. Para isso, ou investimos no espaço-escola ou abrimos a possibilidade de contar com novos parceiros”, opinou Alessandra.

A segunda palestra da tarde trouxe o professor Rogério Silva, doutor em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo e sócio-gerente da Move Social, empresa especializada em planejamento e avaliação de iniciativas socioambientais. Segundo Rogério, a ação de construir indicadores nunca deve ser desvinculada do planejamento: “a produção de indicadores só terá efeitos reais sobre a estratégia de uma iniciativa quando articulada de critérios consistentes, que permitam um julgamento equilibrado desta iniciativa, pois as expectativas sobre resultados de programas de educação integral andam bastante elevadas e nitidamente complexas”, expôs o consultor. Segundo ele, os processos de mudança implicam ideias, capacidade e poder. Indicadores devem estar a serviço do projeto, e se moldar à complexidade do objeto tanto nos aspectos quantitativos quanto nos qualitativos. “Indicadores devem ser específicos, mensuráveis, confiáveis e rastreáveis, assim é possível formular juízo de valores mais precisos sobre a iniciativa”, ensinou. Rogério falou também da pesquisa realizada em junho de 2013 pelo Centro Brasileiro de Análise e planejamento (CEBRAP), sobre fatos que reduzem o sentido da escola para os jovens, sendo alguns deles: professores que faltam, escolas com pouca ou baixa tecnologia digital, escolas que não relacionam educação no mercado de trabalho, e as que possuem estrutura abandonada. “A avaliação dos critérios de julgamentos é o núcleo do trabalho que nos cabe em cada projeto para prospectar melhores resultados na apresentação de indicadores”, explicou o consultor.

Para os participantes, a Mesa de Debates cumpriu com a proposta de provocar impacto e reflexão sobre vários aspectos da Educação Integral

Para a vice-diretora educacional do Colégio Marista João Paulo II (PMBRS), Clotilde Campos, a iniciativa da UMBRASIL de juntar as Províncias para pensarem juntos e trocarem ideias tem sido muito importante e gratificante. “Às vezes ficamos dentro da escola, tão envolvidos com nossas rotinas, que esquecemos a importância do planejamento para o nosso trabalho. Esses encontros certamente dão uma energia nova a nossa missão de bem educar”, pontuou a vice-diretora.

Para o diretor da rede de escolas da Província Marista Brasil Centro-Sul (PMBCS), Flavio Sandi, esse debate é muito importante para o Brasil Marista, também pela questão da ampliação do currículo devido ao aumento da carga horária. Para ele, esse momento de debate o ajudou a refletir sobre a formação integral do estudante. “Eu fico me perguntando o que faríamos, pois temos compromisso com a educação integral e esse debate é crucial para não deixarmos vulneráveis as gerações futuras. Corremos o risco de deixar algo de fora algo que seja fundamental para a formação do sujeito”, ponderou o diretor. Segundo Flávio, uma das ideias que mais o impactou nos debates foi com relação aos espaços. “Quando a palestrante disse não ser possível fazer uma educação integral com os espaços que nós temos hoje, que limitam e enclausuram os alunos, isso me fez pensar que não é uma dicotomia a questão currículo-espaço, muito pelo contrário, eles devem ‘conversar’. Mais do que nunca não imagino como podemos fazer uma escola que não se afine com as políticas públicas”, afirmou o diretor.

Segundo a coordenadora pedagógica da gerência educacional da Província Marista Brasil Centro-Norte (PMBCN), Maria Ireneuda de Souza Nogueira, os debates foram muito importantes porque trouxeram questões sobre escola e seu espaço-tempo. “apesar das limitações de sala de aula, deve haver um momento de concentração e quem deve incitar isso é o professor. Por mais que discutimos sobre como deve ser a educação, o professor sempre terá seu momento com o aluno e é ele quem deverá saber conduzir esse momento”, opinou a coordenadora.

Para o palestrante Paulo Bareicha, a iniciativa da UMBRASIL de convergir conhecimento e integração de suas províncias e escolas para melhorar e organizar o debate interno sobre a educação integral foi excepcional. “Com certeza os debates foram ricos e trouxeram ainda mais frutos aos projetos educacionais maristas”, afirmou.

Organizadores da Mesa de Debates: Leila Paiva (E), Ir. Lúcio e Bárbara Pimpão (C) e Deysiane Pontes (D)

Segundo o coordenador da área de Missão da UMBRASIL, Ir. Lúcio Dantas, as mesas trouxeram cenários que nos indicam a construção de uma educação integral que fuja da padronização. Nesse sentido, os componentes da mesa refletiram sobre a perspectiva do espaço público como um resgate para que esses jovens vivam esse espaço e que possam se apresentar nele. “A escola ao ser um locus de atuação dará a oportunidade para as pessoas serem o que elas são, e essa é a grande sacada, quando pensamos em educação integral significa trazer os alunos para um cenário escolar onde elas possam viver o que elas são”, opinou. Para Ir. Lúcio, a educação integral precisa de um currículo que se adapte a esses vários contextos e não os contextos se adaptarem a um currículo homogêneo e engessado. “As falas de hoje nos provocaram e nos colocaram a ideia de idealizar um currículo que se adapte a uma nova realidade no espaço escolar. Isso tudo numa perspectiva participativa e democrática entre os diversos atores”. Quanto ao resultado da Mesa de Debates, Ir. Lúcio sentiu que o público ficou satisfeito com a participação: “os debates da manhã foram transmitidos ao vivo pelo site da UMBRASIL e houve boa participação nas redes sociais. É isso mesmo que a UMBRASIL deve proporcionar para o Brasil Marista: potencializar o debate e a interação social”, concluiu o coordenador.

Compartilhar

Você também gostar

Em sintonia com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), os...

Entre os dias 20 e 24 de outubro, cerca de 70 lideranças...