Pedagogo. Mestre em educação. Doutor em sociologia pela Universidade de Brasília. Pesquisador do Programa de Mestrado de Gestão do Conhecimento e Tecnologias da Informação da UCB (Universidade Católica de Brasília). Membro da Comissão de Justiça e Paz do Distrito Federal. Focos de atuação: gestão social do conhecimento, gestão educacional, formação de professores(as) e educação e trabalho. Atualmente é Assessor da Área de Vida Consagrada e Laicato da UMBRASIL.
UMBRASIL – A Secretaria-Geral da Presidência da República (SG-PR) lançou, em maio de 2014, a portaria que institui o Marco de Referência de Educação Popular para as Políticas Públicas. Como foi o processo de elaboração desse documento e quais os principais avanços propostos?
Não é simples estabelecer um ponto de origem para educação popular no Brasil. De alguma forma, ela foi sendo construída em vários processos educativos informais e que aconteceram em associações de moradores, igrejas, sindicatos e outros espaços nos quais se articulava o saber das pessoas com o saber formal para melhorar a vida. Uma referência histórica foi a prática de alfabetização de adultos, em especial a experiência de 1963 em Angicos, coordenada por Paulo Freire. No campo da Igreja Católica, uma referência relevante é a experiência do MEB – Movimento de Educação de Base no Norte e Nordeste do país.
O Marco de Referência da Educação Popular para as Políticas Públicas reflete o desejo de valorização das práticas e concepções da educação popular para o universo das Políticas Públicas. A construção do marco envolveu a Recid [Rede de Educação Cidadã], várias organizações que atuam com educação popular, movimentos sociais, universidades e ministérios. Foi um caminho que começou com a consolidação da Recid em 2003, passou pelo Fórum Social Mundial em 2009 onde se discutiu a necessidade de pensar a relação entre educação popular em políticas públicas e finalmente em dois grandes seminários sobre processos formativos do governo federal (2011 e 2012). Foi constituído um grupo de trabalho com a tarefa de consolidação da proposta, que passou por uma consulta aberta para emendas e o marco foi aprovado no Seminário Nacional da Política de Educação Popular em outubro de 2013.
UMBRASIL – Qual a importância do Marco de Referência de Educação Popular para os educadores maristas?
Penso que existe uma relação muito interessante entre a educação popular e alguns princípios educativos maristas. Nesse sentido, parece-me que a perspectiva da educação popular pode fortalecer e ampliar nossa prática pedagógica. Os elementos que sustentam a concepção da educação popular são: o diálogo como fundamento do processo educativo e a convicção de que todos possuem um saber (educadores e educandos). Outro elemento é o ponto de partida do processo educativo: “situações-limites” que afetam a vida e diminuem a nossa dignidade. Compreender essas dinâmicas e atuar na sua transformação é um elemento central da educação popular. Nesse sentido, assume uma dimensão presente em todo o ato educativo: a dimensão política. A autonomia é um princípio, uma meta a ser alcançada e um meio de efetivar o processo educativo.
Outro aspecto relevante é a amorosidade. A amorosidade é uma condição para um diálogo profundo que reconhece que no processo educativo existem papéis diferentes, mas não desiguais. Segundo Paulo Freire, “se não amo o mundo, se não amo os homens/mulheres, não me é possível o diálogo”. Outros princípios poderiam ser citados, mas penso que o fundamental é a esperança na capacidade do educando de aprender e transformar a própria realidade, esperança que a vida pode ser melhor e que a educação possui um papel nessa transformação, esperança na educação como espaço de transformação e melhoria da vida.
UMBRASIL – Quais são os principais desafios da construção da qualidade social e democrática da educação?
Acredito que o nosso grande desafio é vincular qualidade com equidade. Qualidade para poucos, em educação, não é qualidade. Por outro lado, acesso sem qualidade, na verdade, não é acesso. Geralmente somos colocados diante de dois caminhos – fazer uma educação de qualidade para poucos ou “uma fábrica de diplomas” para muitos. Diante desse cenário penso que devemos nos negar a optar pelo mal menor. O país e, em especial, nossas crianças e jovens merecem uma resposta mais digna.



