Entrevista com Pamela Soto Cárdenas, diretora regional de Los Lagos do Serviço Nacional de Menores e Chefe da Delegação do Chile no XXI Congresso Pan-Americano da Criança e do Adolescente.
UMBRASIL: Que compromissos o Chile assume a partir da experiência deste XXI Congresso?
Pamela: Trabalhamos intensamente nestes últimos dias e o compromisso que levamos, primeiramente, são os acordos que ocorrerão aqui entre todos os Estados participantes e comprometidos com os direitos da infância, que tem a ver com a gravidez na adolescência, matrimônio forçado e em idade inadequada. Fundamentalmente, o compromisso que temos é atacar todos os tipos de violações contra a infância e a adolescência. Outro objetivo principal é impulsionar todas as políticas internas empreendidas no combate à exploração sexual de crianças e adolescentes.
UMBRASIL: Qual a importância deste Congresso para a construção de políticas e legislações que garantam os direitos e a proteção integral de crianças e adolescentes?
Pamela: Vemos estes espaços como oportunidade de aprendizagem. Cremos que a possibilidade de estar aqui nos permite conhecer outras realidades, experiências exitosas de outros países e nos permite, também, intercambiar ideias e realizar programas em conjunto. Cito como exemplo ações conjuntas com países que fazem fronteira com o Chile, como o Peru, Bolívia e Argentina e que, deste modo, nos permite realizar ações de prevenção para que crianças e adolescentes tenham facilidade de ter seus direitos reconhecidos nos países de origem ou quando migram para outro. Em conclusão, este Congresso é uma instância muito importante para o Chile pelas possibilidades geradoras que ocorrem aqui.
UMBRASIL: Diante do cenário de vioalções que sofrem as crianças e os adolescentes do Chile, tivemos acesso a números que dizem que 73% das crianças de seu país sofrem algum tipo de violência física ou psicológica e que, ao mesmo tempo, 47% das denúncias recebidas pelo Ministério da Educação do Chile são relacionadas à violência física nas escolas. Que ações efetivas o Estado e a sociedade Chilena farão para erradicar estes dados?
Pamela: A presidenta Michelle Bachelet impulsionou, no primeiro governo [2006-2014], um sistema de proteção social que tem como eixo a proteção da família e da infância. Por tal experiência, no atual governo da presidenta retomamos a expertise deste programa agregando, agora, educação, saúde, habitação, fundos de investimento para projetos e tudo mais que contribua para a superação da pobreza. Isso é que o governo está fazendo, de forma geral, e o mais específico, como o Serviço Nacional de Menores [SENAME] e outros programas especializados de prevenção e proteção focados no trabalho individualizado, familiar e comunitário. Caso tenhamos chegado tarde com estes projetos e as crianças e adolescentes já foram vítimas de alguma violência temos, também, programas de reparação física, psicológica e integral para que possam reingressar na vida social.
UMBRASIL: Volto a insistir na pergunta anterior, pois conversamos com crianças do Chile que estão presentes aqui no Congresso e eles nos contavam sobre situações de violência nas escolas, provinda dos professores. Para além dos programas governamentais de prevenção e proteção, o que a sociedade do Chile pode fazer para abraçar a causa da proteção da infância?
Pamela: Entristece-me muito, também, ver que isso ainda ocorre e não podemos ocultar, pois isso é fato. O que queremos fazer agora, e inclusive nossa delegação está atenta a estes chamados, é ouvir estas crianças e jovens para atender melhor às necessidades. O governo está promovendo Oficinas de Proteção de Direitos. Mais de 100 estão ocorrendo em todo o Chile e nosso objetivo é chegar a 346, uma por comuna. Isso nos permitirá difundir, conscientizar e sensibilizar as comunidades no que concerne à proteção de crianças e adolescentes. Se não conseguirmos sensibilizar a sociedade não teremos êxito na proteção social que tanto queremos. Por isso, estas oficinas, que ocorrerão em todo o território do Chile, nos permitirão construir o empoderamento das comunidades para que esta não seja apenas uma causa do governo e sim de toda a sociedade.



