
Para compor o nono e último encontro do Ciclo de Debates “Utopias do Vaticano II, que sociedade queremos? Diálogos”, realizado pela União Marista do Brasil (UMBRASIL), no dia 23 de novembro, em Brasília (DF), , os organizadores apresentaram o documentário francês “La guerre perdue du Vatican II” (A Guerra perdida do Vaticano II -2012). A ideia do filme foi promover o debate sobre os frutos pós-concílio, baseado na questão: a Igreja, cinquenta anos após da abertura do Vaticano II, já teria outras respostas para o mundo contemporâneo, ou continuará sua barricada atrás das muralhas da tradição?
O documentário também lembrou a história de Dom Hélder Câmara, um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e grande defensor dos direitos humanos durante o regime militar brasileiro. Dom Hélder pregava uma Igreja simples, voltada para os pobres e para a não-violência, além de ter se recusado a viver no luxo dos Palácios Episcopais.Ao longo de 87 minutos, o filme vai mostrando a situação da Igreja, cuja crise que se inicia no ano de 1958, após duas guerras mundiais, o nazismo, as revoluções comunistas, os avanços da ciência, e a moral tradicional posta em causa, o então Papa João XXIII estava convencido de que a Igreja teria de enfrentar inúmeros desafios, caso teimasse em não se atualizar. João XXIII anuncia, então, a necessidade de um concílio: “é necessário abrir as janelas da igreja para o mundo contemporâneo”. No entanto, o Concílio Vaticano II provocou incômodo e trouxe à tona questões que desagradaram superiores, numa igreja, cujos papeis se dividiam entre os papas operários e os tradicionalistas. Outras questões sobre celibato, contracepção, direitos humanos ameaçavam a integridade da instituição e, de 1962 a 1965, 2.500 prelados (dignitários de títulos eclesiásticos) do mundo inteiro se reuniram, em Roma, para reformar uma Igreja Católica em crise profunda.

Segundo o diretor-presidente da UMBRASIL, Ir. José Wagner Rodrigues da Cruz, os religiosos de hoje devem ser protagonistas na reconstrução dessa nova fase da Igreja: “o filme me trouxe a provocação da necessidade em ter mais consciência do tempo histórico que nós, religiosos, agora vivenciamos e que, se não tivermos uma certeza utópica nesse momento, mesmo que nossa fé não fique abalada, a função social da Igreja irá ficar”, disse.Para o assessor do debate convidado pela UMBRASIL, Sérgio Coutinho, o filme é polêmico e certamente traz questões incômodas para quem o assiste, No entanto motiva as seguintes questões: “Quais as contribuições que ele traz para nossas vidas pessoal e religiosa? Como cristãos, quais as utopias que almejamos para a sociedade e a igreja do futuro? Que Igreja podemos esperar, após toda essa polêmica pós-concílio?”, provocou o assessor após a exibição do filme.
Para a irmã Marcele Campos da Silva, o filme chamou sua atenção para a questão da divisão entre reformistas e conservadores. “O que parece é que existem duas Igrejas diferentes, o filme realmente retoma essa situação, por isso fico feliz com as mudanças que já foram iniciadas em oito meses de legado do Papa Francisco, que, com nossa ajuda, irá mudar essa consciência separatista”, opinou a Irmã.
De acordo com Matheus de Jesus Albino, os novos caminhos devem ser os mais corretos e os mais cristãos possíveis nesse momento. “Devemos sonhar com uma utopia que deva romper com um passado histórico triste e assumir o compromisso de lutar por uma igreja comum a todos”, opinou.

Segundo Orleans Assis Sá, sua fé não ficou abalada ao ouvir questões sobre brigas entre paróquias, pedofilias, e desuniões classicistas. “Gosto de filmes que criticam com fundamento, porém o que foi mostrado em nada abala a minha fé religiosa como Católico. Cristão desunido é motivo de tristeza, por isso defendo a união e a humildade entre os cristãos”, elucidou.
A coordenadora da Área de Representação Institucional da UMBRASIL, Leila Paiva, disse que o filme foi muito proveitoso porque mostrou as diferenças dentro de um contexto histórico, no qual a atuação da América Latina aparece muito forte na história. “O que se observa é que é preciso conhecer e estudar bastante esse contexto, principalmente no ponto de vista da América Latina, para entendermos que as diferenças são importantes para a construção de novos direitos sociais e humanos”.
Após o rico debate entre os presentes, o coordenador da Área de Vida Consagrada e Laicato da UMBRASIL, Ir. Antônio Quintiliano da Silva, encerrou o evento lembrando que ele é só o início de uma nova fase, que deve continuar em ações concretas para que os frutos pós-concílio sejam permeados e que gerem novos frutos para o bem da nossa Igreja e da sociedade.
Para assistir ao filme, clique no link: www.youtube.com/watch?v=8m6zh6uYMlI e deixe sua opinião!



