Redução da Maioridade penal em pauta no Fórum Mundial de Direitos Humanos

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A Mesa Redonda sobre Direitos Humanos de Adolescentes em Conflito com a Lei e as Tendências de Recrudescimento Punitivo na América Latina foi a atividade autogestionada realizada, no dia 12 de dezembro, pela União Marista do Brasil (UMBRASIL) em parceria com o Ministério da Justiça do Brasil, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, e a ANDI- Comunicação e Direitos, no Fórum Mundial de Direitos Humanos (FMDH) em Brasília/DF.

Na ocasião, foram lançadas: a Campanha “Maristas contra a Redução da Maioridade Penal, Juntos pela Proteção de Direitos”, pelo secretário executivo da UMBRASIL, Ir. Valdícer Fachi; e a pesquisa: “A Mídia Brasileira e as regras de responsabilização dos adolescentes em conflito com a lei”, pelo secretário executivo e consultora, ambos da ANDI – Comunicação e Direitos, Veet Vivarta e Suzana Varjão.
Uma tarde de reflexão sobre temas relacionados à idade penal e a adolescentes em conflito com a lei foi proporcionada por especialistas renomados, tais como: Norberto Liwski, presidente da Defensa de Niños y Niñas Internacional – Secção Argentina; Suzana Varjão, da ANDI- Comunicação e Direitos; Wanderlino Nogueira, do Comitê dos Direitos das Crianças das Nações Unidas; e Claudio Augusto Vieira da Silva, da SINASE/SNPDCA/SDH.

Nas exposições dos palestrantes, pontos em comum foram ressaltados, tais como: a necessidade de prevenção com Políticas Públicas socioeducativas mais efetivas, que garantam a aplicação dos direitos humanos estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

reducao direitos humanos x

 

De acordo com Suzana Varjão, um dos dados da análise da pesquisa da ANDI refere-se à forma como é realizada a cobertura da mídia em assuntos referentes à criminalidade juvenil. “A sensação que a mídia passa à audiência é a de um sensacionalismo ideológico, no qual a solução para a sociedade é punir crianças e adolescentes em conflito com a lei. Essa atitude ‘desinformativa’ da maioria dos canais jornalísticos desfavorece qualquer trabalho no sentido de prevenir essas crianças a entrar na criminalidade”, demonstrou a consultora.

Para Norberto Liwiski, aumentar penas está longe de ser medida socioeducativa eficiente: “problemas sociais não se resolvem com mais penas, por isso é preciso reduzir essa tendência ao recrudescimento punitivo que existe na América Latina”, opinou. Segundo Liwiski, os países latino-americanos devem garantir direitos não a adolescentes em conflito com a lei, mas a adolescentes com possibilidade de ficar em conflito com a lei.

Segundo Wanderlino Nogueira, deve haver a reflexão de como a sociedade brasileira tem promovido a questão sobre violação de direitos. “Sem políticas de prevenção, eu me pergunto: Quem verdadeiramente está em conflito com a lei? Nós, enquanto sociedade, ou esses jovens, esquecidos pelo descaso social?”, questionou o membro do Comitê de Direitos da Criança das Nações Unidas.

Claudio Augusto Vieira da Silva, por sua vez, questionou qual seria a verdadeira intenção pedagógica do sistema de restrição de liberdades a adolescentes em conflito com a lei e apresentou algumas alternativas: “uma nova agenda política deve ser feita para que esses jovens possam ser ouvidos e para que sejam definidas medidas que devam, de fato, ser tomadas para tirá-los das ruas e das drogas”, opinou Claudio.

Secretário executivo da UMBRASIL, Ir. Fachi, lança Campanha Marista contra redução da maioridade penal

Secretário executivo da UMBRASIL, Ir. Fachi, lança Campanha Marista contra redução da maioridade penal

O debate promovido pela UMBRASIL durante todo o ano de 2013, por meio de reuniões e videoconferências do Fórum Permanente do Marco Regulatório, apontou a necessidade de um posicionamento oficial do Brasil Marista frente à questão da redução da idade penal. Mobilizada, especialmente pela forma como alguns setores da mídia têm pautado o tema, colocando enorme repercussão e sensacionalismo em casos que envolvem adolescentes em delitos e crimes, a UMBRASIL, em resposta à sua Missão na defesa e garantia de direitos de crianças e adolescentes, definiu como prioritária a adesão a outros movimentos de instituições parceiras em iniciativas contra a redução da maioridade penal. Por isso, desenvolveu a Campanha “Maristas contra a Redução da Maioridade Penal, pela Proteção de Direitos”.

De acordo com o secretário executivo da UMBRASIL, essa Campanha visa dar continuidade a ações de mobilização e articulação com outras instituições, para vislumbrar novas propostas socioeducativas e acompanhar as propostas legislativas, a fim de realizar ações de incidência política. “Dessa forma, garantimos a proteção de direitos humanos e contribuímos para uma cultura solidária e protetiva com as infâncias, adolescências e juventudes brasileiras, já previstos nas normas constitucionais e específicas”, elucidou Ir. Fachi.

Para os Maristas, reduzir a maioridade penal não reduzirá criminalidade

Temos um sistema historicamente desigual e violento, o que tem gerado o crescimento dos índices de violência. Nesse sentido, fica óbvio que medidas mais repressivas somente mascaram a realidade, retirando, momentaneamente, determinadas pessoas do convívio social e comunitário e, portanto tornando-as mais distantes do imaginário da convivência saudável. Com capacidade para aproximadamente 260 mil detentos, o Sistema Penitenciário Brasileiro tem cerca de 500 mil presos, ou seja, o Brasil possui a quarta maior população carcerária do mundo.

O sistema socioeducativo nacional, por sua vez, também tem sido uma sucessão de falhas espelhadas nas mesmas práticas do sistema adulto. Vivemos a negação de um modelo que nunca conseguiu ser implementado, por isso, o país ainda convive com graves violações de direitos nas unidades de internação socioeducativas. Não temos uma política consolidada de atendimento que garanta estruturas, procedimentos e recursos humanos e orçamentários adequados em todas as fases do processo, desde a prevenção, a abordagem policial, o julgamento, a responsabilização e a reinserção social. Para um problema dessa complexidade, temos que pensar em soluções estratégicas articuladas e gerais, tal como um grande pacto federativo pela infância. Um compromisso entre pessoas, famílias, comunidades, municípios, Estados e União, que envolva investimentos maciços em educação, cultura e lazer para crianças e adolescentes e jovens; recuperação urbanística de áreas mais violentas da cidade, ampliação das oportunidades de emprego nessas regiões e redução da impunidade, entendido aqui, como redução da falta de responsabilização.

Por isso, nós, Maristas, dizemos “Não” à redução da idade penal e “Sim” à vida e aplicação de seus direitos, principalmente às crianças, adolescentes e jovens que são vítimas da violência e do descaso social.

Mais informações sobre o Fórum Mundial de Direitos Humanos: www.fmdh.sdh.gov.br/index.php/programacao

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